Carta do Secretário-Geral da ALADI  
 


Para um novo mundo
América Latina e Ásia Pacífico

No dia 31 de maio, na ALADI, junto a CAF Banco de Desenvolvimento da América Latina e CEPAL, com a presença de embaixadores dos países asiáticos e funcionários das chancelarias latino-americanas, apresentamos o Observatório Ásia-Pacífico - América Latina, por meio do qual se pretende acompanhar, de maneira exaustiva e sistemática, o relacionamento entre essas duas regiões, partindo de uma perspectiva econômico-comercial.

Este Observatório visa dar conta de que estamos em presença de um processo histórico de mudança no planeta. Atravessamos uma etapa de transição entre um mundo que declina e outro que está surgindo. O primeiro é o do domínio unipolar e do Ocidente, o mundo que se configurou, sobretudo, depois da queda do muro de Berlim e que percebeu a si mesmo como definitório e indiscutível, tanto em suas formas de domínio político-militar quanto em seu modelo absoluto de mercado e de financeirização da economia. O que está nascendo é um mundo que desloca o eixo de poder do Ocidente ao Oriente, com o retorno da China ao centro do cenário internacional; e do Norte ao Sul, no plano do crescimento, do comércio e do deslocamento do excepcionalismo norte-americano como centro da dominação política para uma multipolaridade que já começa a exibir seus perfis mais destacados.

Estamos enfrentando uma transição inédita de mudanças e reconfigurações em escala global que somente ocorre em séculos. Pode-se encontrar alguma semelhança na passagem da hegemonia do Mediterrâneo ao Atlântico no comércio do século XVI. Momentos cruciais nos quais se modificam as relações de poder, a geografia comercial e a geopolítica, a partir dos quais ascendem novos atores, enquanto outros declinam ou entram em uma fase de decadência e crise. Atualmente, a presença cada vez mais protagonista da China, o declínio dos Estados Unidos, a crise estrutural da Europa e a emergência do Sul como locomotiva da economia mundial são indicadores contundentes de que enfrentamos uma nova era na qual coexistem a incerteza, a crise do multilateralismo, a perda gradual de compromisso para produzir mudanças drásticas no cenário econômico-financeiro mundial e a deslegitimação do capitalismo como o sistema capaz de conciliar desenvolvimento com uma relação mais harmônica entre o homem, a natureza e os modelos de produção e distribuição.

Neste contexto, a América Latina já não aparece como o “continente da esperança”, mas como uma realidade potente que pode aspirar a ser um dos atores importantes na nova reconfiguração mundial em andamento.

Eis a razão do esforço em encontrar convergências em uma realidade muito heterogênea, trabalhando pela unidade na diversidade, no âmbito da pluralidade de modelos, aprofundando a cooperação, integrando as agendas e começando a construir “uma só voz” nos temas mais decisivos da agenda global.

A relação com a Ásia-Pacífico, a região hoje economicamente mais dinâmica do mundo, apresenta-nos desafios de caráter estratégico, em relação tanto aos modelos de desenvolvimento de nossos países quanto a nossa inserção na economia mundial.

Esperamos que a ALADI possa contribuir para que a América Latina avance em uma visão mais cooperativa e compartilhada para assumir esses desafios. No mesmo sentido, o fortalecimento do MERCOSUL, os avanços da UNASUL e as expectativas sobre a recentemente criada Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) são fundamentais para afirmar o caminho integrador.

Carlos Chacho Alvarez
Secretário-Geral da ALADI


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