Processo de Integração

   Observatório América Latina - Ásia Pacífico

   América Latina e Ásia Pacífico. Realidades que definem a agenda

1. Introdução

As relações entre América Latina e Ásia Pacífico têm aumentado de forma substancial nos últimos anos, não somente devido ao impulso das transformações registradas nos países asiáticos, mas também graças ao desempenho econômico dos países da América Latina.

Esta constatação, que não é nova, continua causando surpresa devido ao ritmo dos intercâmbios, especialmente no que tange aos impactos, o que leva à permanente introdução de novos temas e atores na agenda entre ambas as regiões.

Tal cenário obriga todos aqueles atores que intervêm na relação, especialmente os formuladores de políticas públicas, àprofissionalização cada vez maior da análise relativa às relações entre as partes.

É neste âmbito que a ALADI, a CAF e a CEPAL decidiram, no ano 2012, conformar o Observatório América Latina-Ásia Pacífico, que tem por objetivo fundamental aprofundar o conhecimento em torno às relações econômicas entre ambas as regiões, bem como contar com um mecanismo permanente que forneça aos diferentes atores as informações necessárias a fim de contribuir com a adoção de políticas e de estratégias sobre a matéria.

2. Algumas características da relação

2.1 Múltiplos canais

A relação entre os dois atores têm múltiplos canais, que, aliás, apresentam marcadas diferenças segundo o país. Contudo, a importância do comércio exterior de bens tem representado o veículo de maior envergadura, tendo sido inclusive excludente, até poucos anos atrás, nas análises de governos e acadêmicos. Mais recentemente, o dinamismo que adquiriram os investimentos, a potencialidade exposta no comércio de serviços e o financiamento ampliaram notoriamente o campo de análise. Outro fenômeno, a cooperação, está presente há tempo, especialmente pela ativa participação de algumas potências asiáticas.

Deve ser levado em consideração que, na medida em que a relação se aprofunda, ganham importância outros fenômenos menos estudados, como temas vinculados àinfra-estrutura (tanto da lógica dos investimentos quanto das restrições geradas pelo déficit apresentado por alguns países neste setor), o número de empresários que interagem, os que impulsionam associações estratégicas como a constituição de Joint Ventures ou acordos de transferência tecnológica e pesquisa, os importantes e crescentes intercâmbios acadêmicos entre as duas regiões, a progressiva relevância do turismo – com oportunidades claras – e a interação cultural, que promove uma maior aproximação entre os povos, levando ao incremento de possibilidades de fechar negócios.

2.2. O desempenho econômico e comercial

Naturalmente, as relações entre as duas regiões estão afetadas pelo desenvolvimento interno registrado por cada uma das economias da região, que, aliás, resulta bastante díspar se analisado de forma desagregada.

Nos últimos anos, a Ásia Pacífico e a América Latina têm demonstrado ótimo desempenho econômico. Conforme o gráfico abaixo, a América Latina deu um salto principalmente a partir de 2003; porém, o crescimento do PIB nominal dos países da Ásia Pacífico tem sido muito maior (três vezes superior ao da América Latina), o que permite introduzir outra das características principais que explica a relação entre os dois atores: a assimetria.

Gráfico 1 – Evolução do PIB nominal
(1980 – 2012)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

O bom comportamento das economias favoreceu o crescimento do PIB per capita, que continua sendo superior nos países latino-americanos, mas com uma brecha menor àquela dos anos anteriores. Por exemplo, em 1980, a renda per capita da região da Ásia Pacífico atingia US$ 989 anuais (1), enquanto que a da América Latina atingia US$ 3.489 (relação maior a 3). Em 2012, os números aumentaram para US$ 8.438 na Ásia Pacífico e para US$ 12.559,00 nos países da América Latina (relação menor a 1). A diminuição da brecha tem a ver com as taxas de crescimento do produto das regiões. Nesse sentido, se considerarmos a percentagem média entre os anos 1980 – 2012, a Ásia Pacífico cresceu 4,3% e os países latino-americanos cresceram 2,8%.

Gráfico 2 – Evolução do PIB per capita
(1980 – 2012. PPC ponderado)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

Outro fenômeno que marcou o desenvolvimento econômico das duas regiões nos últimos anos tem a ver com a captação de IED, onde a Ásia Pacífico também lidera tanto em números quanto em desempenho. Quanto a essas variáveis, um dos temas centrais refere ao destino do investimento, aspecto considerado de especial importância no desenvolvimento econômico dos atores e que, como veremos a seguir, é atualmente debatido em alguns países da região latino-americana a partir da relação mantida com a China.

Gráfico 3 – Evolução da captação de IED
(1980 – 2012)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

No comércio exterior, tanto de bens quanto de serviços, a Ásia Pacífico apresenta valores de maior importância, o que é natural se levarmos em conta a diferença populacional (cerca de 600 milhões de habitantes na América Latina contra 3.5 bilhões na Ásia Pacífico). Ora, como acontece com as taxas promédio do crescimento do PIB e com o nível na captação de investimentos, também no que diz respeito ao comércio a região asiática está crescendo muito acima da média latino-americana. Aliás, os números em valores também não são comparáveis, o que reforça a assimetria e faz com que esta característica seja sempre destaque em qualquer análise feita sobre estas regiões.

Gráfico 4 – Evolução de importações
(1980 – 2012)
Bens

Serviços

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

2.3 A importância da relação bilateral

Nos últimos anos, o comércio bilateral de bens entre as partes tem aumentado de forma exponencial, principalmente a partir da primeira década do novo século. Deve-se levar em consideração que, no que diz respeito ao comércio bilateral, existem importantes diferenças nos montantes informados segundo a região que for considerada para a análise, o que, inclusive, afeta os montantes de saldo comercial, um dos itens mais analisados na relação bilateral.

Conforme os gráficos a seguir, tanto as exportações quanto as importações cresceram. Registrou-se saldo comercial favorável à região asiática.

Gráfico 5 – Evolução do comércio bilateral de bens
(1980 – 2012, informado por América Latina)
Importações

Exportações

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

O déficit comercial entre as duas partes é crescente, tendo atingindo cerca de US$ 100 bilhões em 2012, conforme informado pela América Latina. Cabe lembrar que considerando os dados da Ásia Pacífico, o superávit da região com a América Latina seria de quantia próxima aos US$ 20 bilhões. A grande porção do déficit informado pelos países latino-americanos com a região asiática é explicada pela relação do México com a China, seguido – embora menos importante – pelo déficit crescente da Argentina com essa potência asiática.

O saldo comercial deficitário que apresentam os países latino-americanos com a Ásia Pacífico, especialmente com a China, tem gerado tensões entre ambos os atores, já que algumas economias começaram a aplicar medidas protecionistas, em particular tarifárias, para proteger-se das competitivas importações asiáticas, não somente das provenientes da China, mas também de outros países do sudeste asiático. Aliás, devido ao tamanho dos mercados e ao desenvolvimento das estruturas produtivas na região, este fenômeno tem motivado diferentes perspectivas à hora de propor estratégias de relacionamento com os países asiáticos, dificultando ainda mais a possibilidade de definir posições comuns, com as implicações que isto acarreta.

Gráfico 6 – Evolução do saldo comercial de bens
(1980 – 2012, informado por América Latina)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

Se observarmos os principais mercados da América Latina na Ásia Pacífico, a concentração é característica, já que levando em consideração a média da última década, a China concentrou mais de 44,2% do total adquirido, seguida pelo Japão, com 17,5% e pela República da Coreia, com 9,1%. Em menor medida, e surpreendentemente devido à potencialidade comercial que existe com esse mercado, encontra-se a Índia, com 7,8%. Dentre as economias menos tradicionais, destacam-se as vendas à província chinesa de Taiwan, a Hong Kong e a Cingapura.

Gráfico 7 – Principais mercados da América Latina na Ásia Pacífico
(Participação em todo o período 2001 – 2011)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

Quanto aos principais mercados asiáticos fornecedores da América Latina, repete-se o cenário anterior: a China concentrou grande parte das colocações da região asiática na América Latina, seguida pelo Japão e, em menor medida, pela República da Coreia, que tem maior participação como fornecedor que como comprador. O quarto lugar como fornecedor é ocupado pela província chinesa de Taiwan, seguida pela Malásia e pela Índia, que perde participação se comparada à apresentada no destino das colocações da América Latina.

Gráfico 8 – Principais fornecedores na Ásia Pacífico da América Latina
(Participação em todo o período 2001 – 2011)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

Replicando a análise a partir da Ásia Pacífico, no que diz respeito às exportações, os principais mercados latino-americanos foram México (26,2%), Brasil (23,5%) e Panamá (16,8%). Atrás estão Chile, Argentina e Colômbia. Os principais mercados fornecedores de bens adquiridos pela referida zona foram Brasil (36,8%), Chile (20,7%) e México (10,8%), seguidos de Argentina, Venezuela e Peru.

No que diz respeito à concentração por países, tanto em nível de importações quanto de exportações, na América Latina existe nível de concentração maior, especialmente pela importância da China no total comercializado por todos os países latino-americanos, o que poderia estar gerando uma dependência além do desejável com o referido mercado.

Quanto aos bens exportados, também levando em consideração o período 2001 – 2011, observa-se, como na análise por país, uma importante concentração nas colocações da América Latina para a Ásia Pacífico. De fato, cerca de 30% do colocado pela referida região nos países da Ásia Pacífico foram minérios, seguidos de combustíveis (14,7%), cobre e suas manufaturas (12,3%), sementes (9,9%), resíduos ed esperdícios das indústrias alimentícias (4,6%), fundição de ferro e de aço (4,5%), graxas e óleos animais (3,6%), carne e miudezas (3,2%) e pasta de madeira (2,6%). A participação dos bens primários aumentou nos últimos anos, confirmando uma primarização das colocações para a região asiática.

Já os países latino-americanos importam bens industriais de maior conteúdo tecnológico, destacando-se, nesse período, máquinas elétricas (33,7%), máquinas e aparelhos mecânicos (19,2%), veículos automóveis e suas peças (9,9%), instrumentos, aparelhos de ótica e equipamentos médicos, de medição, fotográficos e de controle (4,2%), combustíveis minerais (3,7%), produtos químicos orgânicos (3,1%) e plásticos e suas manufaturas (3%).

Os resultados revelam o claro padrão comercial entre as duas partes: a exportação de bens de base primária pela América Latina e a exportação de bens industriais de alto grau tecnológico pela Ásia Pacífico.

2.4 Os acordos comerciais e de investimento

A assinatura de acordos comerciais e de investimentos entre as duas regiões é um fenômeno relativamente novo, mas que vem ganhando impulso nos últimos anos. Ele acompanha um fenômeno de maior abrangência, especialmente para o caso das economias asiáticas, região que mostrou índices de maior dinamismo no fecho de acordos comerciais nos últimos anos. O seguinte gráfico apresenta a redução da tarifa promédio provocada por este fenômeno, maior que a apresentada pela América Latina. De fato, o nível tarifário sem ponderar desta última zona aumentou 8,6% em 2012, enquanto que o da Ásia Pacífico foi de 6,8%.

Gráfico 9 – Evolução das tarifas promédio
(Sem ponderar)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

No que tange aos acordos comerciais, o Chile foi o país mais dinâmico da América Latina quanto à assinatura deste tipo de convênios. O país assinou tratados com Austrália, Brunei, China, República da Coreia, Índia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Cingapura, Vietnã e Hong Kong (2). O Peru não ficou atrás em dinamismo na abertura comercial com os países da região asiática, tendo assinado acordos com China, República da Coreia, Japão, Cingapura e Tailândia.

Imagem 1 – Acordos comerciais vigentes entre a América Latina – a Ásia Pacífico
(Cada célula azul implica um acordo comercial vigente)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

Atrás do Chile e do Peru, há outros países destacados. O Panamá assinou dois acordos, um com a província chinesa de Taiwan e outro com Cingapura. A Costa Rica também assinou acordos com a China e Cingapura. Há países latino-americanos que contam somente com um acordo em vigor com países da Ásia Pacífico, enquanto que Bolívia, Cuba, Equador, Venezuela e República Dominicana não fecharam ainda nenhum acordo com essa região, evidenciando as diferentes estratégias dos países com a região asiática.

Como mencionado anteriormente, o Chile é o país com maior número de acordos. Estas negociações são relativamente recentes. Os primeiros acordos assinados pelo Chile foram com a República da Coreia, em 2004, com Brunei, Nova Zelândia e Cingapura, em 2005, no âmbito do P4, hoje denominado TPP. Nesse mesmo ano, o Chile assinou um TLC com a China. O último acordo foi assinado com Hong Kong, em 2012.

É de salientar, também, a relação com a Índia. Os acordos assinados por esse país são acordos de preferências comerciais, de menor profundidade se comparados com os TLC ou com os acordos de Associação Econômica. No caso dos países do MERCOSUL, o acordo com a Índia é o único assinado com a região da Ásia Pacífico, confirmando a baixa tendência deste processo de integração de avançar mediante instrumentos deste gênero com a região asiática.

A situação é diferente para o caso de assinaturas de acordos de investimento, pois o número de tratados de proteção recíproca de investimentos é muito maior, sendo a Argentina um dos países de maior dinamismo na assinatura deste tipo de convênios com a Ásia Pacífico. Contudo, há que considerar que os TLC e os Acordos de Associação negociados entre países das duas regiões incluem um capítulo de investimentos.

Imagem 2 – Acordos de investimentos vigentes entre América Latina – Ásia Pacífico
(Cada célula azul implica um acordo de investimentos vigente)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

Quanto às negociações, como acontece com os acordos, o Chile é o país mais ativo, contando com negociações com Austrália, Brunei, Índia, Indonésia, Malásia, Nova Zelândia, Cingapura e Vietnã. O país assinou um acordo com Tailândia, que ainda não começou a vigorar. Várias das negociações em curso são desenvolvidas no âmbito do TPP. Atrás do Chile, vêm o México e o Peru, que, junto com o Chile, também integram as negociações do acordo transpacífico que, atualmente, envolvem, ao todo, doze países.

A Colômbia vem se interessando em negociar com os países asiáticos, embora em menor medida que o resto dos membros da Aliança do Pacífico já que o país não integra o TPP nem a APEC.

Também, cresce o interesse de negociações entre a América Central e a região asiática; atualmente, estão sendo estudadas as possibilidades de iniciar negociações entre vários países centro-americanos com a República da Coreia.

Como revela a imagem abaixo, nenhum país do MERCOSUL, nem Bolívia, Equador, Cuba ou Nicarágua têm negociações abertas com os países asiáticos, o que confirma as diferenças nas estratégias de inserção dos países latino-americanos.

Imagem 3 – Negociações entre América Latina – Ásia Pacífico
(Cada célula implica uma negociação em curso. Verde: negociação submetida a estudo; salmão: em negociação; azul: assinada, mas não vigente)

Fonte: Observatório América Latina – Ásia Pacífico

3. Alguns desafios para a agenda bilateral

O dinamismo e a importância que apresentaram as relações econômicas e comerciais entre a América Latina e a Ásia Pacífico exigiram uma série de desafios. Para analisá-los, propomos o seguinte esquema analítico:

Complexidade da relação

Talvez, um dos principais desafios tenha a ver com a aceitação das diferenças entre os países que integram as duas regiões, que, necessariamente, exigem uma análise diferencial para identificar oportunidades e para calibrar adequadamente esses desafios. Não podemos utilizar a mesma estratégia de relacionamento com a China que com os países da ASEAN ou com a Índia; nem com o MERCOSUL, América Central ou com os países andinos. A história, a geografia, as características culturais, bem como o desenvolvimento produtivo e as estratégias de inserção aplicadas pelos países que integram as duas regiões diferenciam cada país e cada sub-região.

Todos os países e economias que integram ambas as regiões apresentam nível elevado de complexidade (especialmente os países da Ásia Pacífico), que fazem necessária uma precisa definição de estratégia de inserção comercial. Os países asiáticos possuem políticas diferentes às da América Latina, região que, a priori, é mais homogênea que a Ásia Pacífico.

Ultimamente, os países latino-americanos também vêm apresentando marcadas diferenças de relacionamento com a região. O fenômeno tem sido apresentado como contraposição de modelos de integração; porém, significa justamente um reconhecimento das diferenças e das complexidades de cada sub-região ou país para definir sua melhor estratégia de desenvolvimento.

Assimetrias

A assimetria entre os dois atores evidencia-se em variáveis como PIB, território, população, importância do comércio internacional e fluxo de investimentos, entre outras. A América Latina apresenta um desafio adicional, que tem a ver com as assimetrias assinaladas, em particular pela ponderação da China em qualquer análise que envolver a Ásia Pacífico. Embora isto seja uma consequência natural, não deve aplacar o desenvolvimento das relações com outros países dessa região que também mostram grande interesse pela América Latina.

Como mencionado, a concentração atualmente existente, tanto em nível de produtos quanto de mercados, é maior nos fluxos comerciais da América Latina do que nos da Ásia Pacífico. Isto é associado, entre outros fatores, à sofisticação das estruturas produtivas decorrentes das políticas de desenvolvimento industrial aplicadas por cada parte.

Este é um aspecto central no debate atual, já que a região latino-americana reproduz com a Ásia Pacífico o padrão comercial que mantém com os Estados Unidos e com a Europa, inclusive de maneira potencializada - neste caso, devido à relação com a China. Nos últimos anos, foram reprimarizadas as colocações dos países latino-americanos para o destino asiático, para o qual são exportados basicamente bens primários. Pelo contrário, por causa da competência dos países asiáticos na produção e no comércio de bens de alta tecnologia, os países da América Latina continuam perdendo força neste setor, tanto em seus mercados internos quanto nos regionais (fluxos de comércio intra-regional), o que tem gerado tensões na relação com as economias asiáticas.

Fortalecimento e redirecionamento

As assimetrias anteriormente mencionadas não significam necessariamente mudanças drásticas nas políticas atuais; há que reconhecer os benefícios associados ao bom desempenho das colocações de bens primários. Dita relação conseguiu enorme diversificação de mercados para os países latino-americanos, mas também para os asiáticos, devido a que a América Latina é um fornecedor cada vez mais importante para a Ásia. Também, permitiu que os efeitos da crise iniciada em 2008 nos Estados Unidos e na Europa não prejudicassem América Latina tanto quanto outros mercados. Espera-se continuar com este padrão, embora seja possível redirecionar os impulsos buscando maior diversificação, por exemplo, na colocação de produtos alimentares mais processados, integrando esse setor às cadeias de valor; ou gerar vantagens competitivas a partir dos investimentos asiáticos nos setores em que os países latino-americanos possuem vantagens comparativas.

Sem dúvidas, a relação comercial entre as duas regiões ingressou a uma nova fase, se consideramos não somente os impactos das transformações da denominada nova classe média mundial, mas também o baixo nível de comércio existente entre alguns países em comparação com seu potencial, caso da Índia ou dos países do sudeste asiático com a América Latina.

A firma de acordos comerciais é uma realidade, mas cabe alertar sobre a necessidade de expandir este fenômeno, especialmente por causa do escasso dinamismo mostrado por algumas sub-regiões, como América do Sul ou Central. O nível de integração atingido pelos países da ASEAN e por seus acordos complementares (ASEAN +), bem como o impacto de um eventual encerramento das negociações no âmbito do TPP e do RCEP, pode levar à perda de vantagens relativas de acesso aos mercados asiáticos, que terá efeitos não dimensionados adequadamente por muitos dos países, especialmente pelos latino-americanos.

Os novos temas da agenda

Mais recentemente, a agenda entre os dois atores foi incorporando progressivamente a potencialidade apresentada pelo comércio de serviços, a relação entre os investimentos e o desenvolvimento produtivo, a importância do financiamento pelos bancos asiáticos (especialmente da China), a potencialidade do turismo, os projetos conjuntos no setor energético, os investimentos em infra-estrutura, os níveis de associatividade empresarial, as novas modalidades de cooperação (por exemplo: militar, científica ou tecnológica), a potenciação dos encadeamentos produtivos, os intercâmbios culturais, acadêmicos e políticos, entre outros.

Alguns dos temas assinalados confirmam que a relação não está limitada, por exemplo, ao comércio, que é o canal mais destacado. Pelo contrário, a agenda será cada vez mais complexa e imporá a definição de políticas precisas em diferentes áreas. Em alguns casos, espera-se que tais políticas sejam acordadas mediante mecanismos regionais e sub-regionais, os que, por sua vez, emergirão com mais força nos próximos anos.

A incorporação de um maior número de temas à agenda traz junto um maior intercâmbio entre populações, incrementando as oportunidades para empresários e acadêmicos e derivando no conhecimento entre as partes.

As políticas públicas

As relações marcadas pela complexidade e pelas assimetrias, como o caso da América Latina e da Ásia Pacífico, justificam um papel ativo do Estado na definição de políticas que favorecerem a interação. Uma primeira definição diz respeito às estratégias de desenvolvimento definidas por cada Estado, que deverão ser pensadas no longo prazo e de consenso entre todos os atores nacionais. Este cenário, que parece evidente, seria ideal para enfrentar qualquer relação assimétrica e complexa, que exigirá tomar decisões para mitigar os impactos negativos das relações com outras regiões, bem como para potenciar os benefícios. Além de contar com uma estratégia, os países devem acompanhar as vertiginosas dinâmicas da relação, com novos atores e temas, apresentando novos desafios para a gestão pública. O risco de não agir ou de agir de forma tardia pode significar a perda de espaços e de oportunidades.

Espera-se que parte das políticas públicas instrumentadas por ambas as regiões alcancem consensos nos mecanismos de integração e de concertação política existentes, tanto na América Latina quanto na Ásia Pacífico, respeitando as diferenças e os matizes conforme os interesses nacionais de cada membro, mas buscando pontos de contato nos temas que ultrapassam fronteiras nacionais e que somente podem ser tratados sub-regional ou regionalmente.

A especialização e a profissionalização dos atores

A importância relativa crescente, bem como o dinamismo que caracteriza as duas regiões estudadas, faz com que todos os atores que intervêm na relação tenham de apostar na especialização e na profissionalização em sua área de ação.

Este cenário obriga os atores públicos e privados a desenvolverem capacidades prospectivas para facilitar a identificação de oportunidades comerciais que motivem a implementação das políticas públicas e a definição de estratégias comerciais para concretizar negócios. Para tanto, será necessário contar com setores públicos, privados e acadêmicos cada vez mais preparados e especializados.

Neste sentido, o Observatório América Latina – Ásia Pacífico, criado em 2012 por ALADI, CAF e CEPAL, colabora, como outros organismos e instituições, para atingir esse objetivo.

Para tanto, publica regularmente estudos concernentes às relações econômicas e comerciais da América Latina com a Ásia Pacífico, promove a publicação de estudos elaborados por especialistas, criou um Fórum Acadêmico que reúne mais de cem especialistas das duas regiões, realiza eventos especializados, oficinas e atividades sobre diferentes temas de interesse e conta com um Portal Web com informações atualizadas e ferramentas de grande utilidade para acadêmicos, funcionários de governo, diplomatas, empresários e público em geral.

Também, acompanha permanentemente as relações econômicas e comerciais, introduzindo novos temas à sua agenda e colocando à disposição de seu público-alvo novos insumos para a facilitação de uma melhor especialização na análise.

Resultados esperados

O adequado tratamento da agenda atual das relações entre a América Latina e a Ásia Pacífico e a progressiva tomada de decisões sobre a melhor estratégia de relacionamento colaborará com o desenvolvimento sustentável das duas regiões, que, inevitavelmente, continuarão aprofundando seus intercâmbios até atingirem patamares inimagináveis na atualidade.

Ignacio Bartesaghi
CoordenadorObservatório América Latina - Ásia Pacífico

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(1) Calculado por paridade de poderes de compra e ponderado por população.

(2) Este último aprovado, por enquanto, somente por Hong Kong.

Nota: As opiniões contidas no presente artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não refletem nem comprometem a opinião de nenhuma das três organizações que conformam o Observatório América Latina - Ásia Pacífico: ALADI, CAF e CEPAL.

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