Carta do Secretário-Geral

   América Latina e um Novo Mundo

Não se pode negar que um novo mundo está surgindo. Como em qualquer transição, ainda é difícil ver com claridade as suas novas configurações, pois o “velho” não terminou de morrer e o “novo” não terminou de nascer. Contudo, alguns dos seus contornos são muito nítidos, principalmente, os que fazem emergir a região da Ásia – Pacífico, que já se transformou na zona mais dinâmica do mundo, com a China chefiando esta realidade inegável.

O mapa do comércio e do poder está se deslocando do Atlântico Norte para o Pacífico e do Norte para o Sul, o centro está virando periferia e a periferia começando a ocupar um lugar central. Certo declínio dos Estados Unidos e a crise europeia estão conduzindo o mundo, a uma velocidade maior à esperada, a uma multipolaridade que pode ser benéfica sempre que a qualidade do funcionamento das instituições globais for apurada ou, melhor dito, se for construída uma institucionalidade à altura dos novos desafios internacionais.

Tal multipolaridade irá se configurando com base em blocos ou alianças de países cada vez mais conectados e integrados. A nova realidade irá incorporando mais atores na medida em que a periferia for capaz de se articular de forma mais eficiente e de ser a protagonista desta incipiente realidade.

Daí a necessidade, para a América Latina, de avançar com maior celeridade em seu processo de integração e de complementação política, econômica, social e cultural. Para a integração à nova realidade, não basta com que o continente evoque o seu passado comum; ele precisa contar com políticas adequadas e com uma agenda positiva a fim de que, para além da diversidade ideológica, política, econômica, geográfica e social, possa constituir-se como um âmbito comum com mais coincidências que diferenças.

Para tanto, deverá priorizar objetivos. Dentre eles, destacam-se a promoção, a ampliação e o fortalecimento do comércio intra-regional como meio de aproximação, intercâmbio, complementaridade e conjunção de interesses compartilhados.

O papel da ALADI é de grande importância nesta tarefa. Em seu seio convergem as principais economias latino-americanas que, aliás, levam à prática projetos de desenvolvimento por todo o continente. A associação é espelho da diversidade geográfica e dos matizes que conformam a heterogeneidade da nossa região. Ela representa a possibilidade de ampliação do comércio latino-americano e é a principal contribuição para a construção do continente em um ator relevante deste novo mundo.

Trata-se de ver o comércio não apenas em sua forma de concorrência e disputa, mas também em sua capacidade de incidir na diversificação de nossas matrizes produtivas, na conformação de cadeias de valor regionais, no protagonismo das pequenas e médias empresas no comércio exterior e na busca de complementaridades econômicas para fazerem parte do motor de uma maior integração.

Uma iniciativa, recebida com interesse por todos os países, é a possibilidade de gerar um grande encontro latino-americano de negócios, comércio e investimentos, impulsionado desde a ALADI, isto é, uma macrorrodada de intercâmbios, conhecimentos, possibilidades de financiamento e atração de investimentos que reunir o conjunto dos países da América Latina e do Caribe.

Também, é importante discutir e atualizar a agenda de facilitação do comércio na região, incluindo tanto os velhos quanto os novos temas impostos pela agenda global.

Assim, poderíamos inaugurar uma prática que consideramos fundamental para dar cada vez mais nitidez ao novo perfil da América Latina. Para tanto, é necessário, ainda, o profundo conhecimento entre países e subregiões, a busca comum de investimentos, maiores possibilidades de associação e de complementação, projetos compartilhados para melhorar a inserção na economia global e, sobre tudo, um encontro que reunir os governos, o setor privado, organismos e agendas de financiamento, meios de comunicação e todas as pessoas comprometidas e interessadas na consolidação da nossa região e no seu protagonismo neste novo mundo que está chegando.

Carlos Chacho Alvarez
Secretário-Geral da ALADI

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